sábado, 19 de novembro de 2016

CANCRO DA PRÓSTATA - Um tema fundamental de saúde pública

Decorre o Novembro azul (após o Outubro rosa) destinado a alertar para as doenças cancerígenas do homem, sendo que a mais grave em termos de mortalidade é o cancro da próstata.

Eu próprio ao longo da vida fui confrontado com o elevado stress provocado pela interpretação dos valores do PSA - considerado pela generalidade dos médicos o principal indicador da doença.

Tive conhecimento recente dum artigo que critica o uso do PSA como principal indicador de cancro na próstata. Tratando-se dum artigo publicado no New York Times e sendo o autor precisamente o investigador que descobriu o PSA, creio que tem credibilidade.

Na verdade o PSA - verifiquei-o por experiência própria - pode sofrer variações rápidas resultantes de factores como o aumento da próstata (HBP - hiperplasia benigna da próstata), a agitação nervosa ou física, a atividade sexual e até a alimentação, entre outros.

Mas os médicos - apesar de vários alertas como os do autor do artigo - continuam generalizadamente a utilizar o PSA como primeiro instrumento de diagnóstico, criando muitas vezes situações de verdadeiro terror nos homens com (ou até sem) problemas de próstata.

Acho que é tempo de parar com isso e voltar à anterior melhor forma de diagnóstico - o toque retal - usando-se as outras formas diversas (uma delas, importante, a conversa com o paciente sobre os seus sintomas, outra é a relação PSA livre / PSA total), apenas partindo para soluções drásticas como a cirurgia ou a castração química em casos muito especícos (bem ao contrário do que se faz atualmente).


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(Tradução do artigo do investigador que descobriu o PSA)
THE NEW YORK TIMES
OP-ED CONTRIBUTOR
Pode ler o artigo original AQUI

O GRANDE ENGANO SOBRE A PRÓSTATA
A triagem através do PSA da próstata é imprecisa e um desperdício de dinheiro

Por RICHARD J. ABLIN
Tucson, 9 de Março de 2010

EM CADA ano cerca de 30 milhões de homens americanos são submetidos a testes do antigénio específico da próstata (PSA), uma enzima produzida pela próstata.
Aprovado pelo FDA (Departamento para Drogas e Alimentos, dos EUA) em 1994, é a ferramenta mais usada para detetar o cancro da próstata.
A popularidade do teste levou a um enorme e dispendioso desastre na saúde pública. É um problema com o qual estou dolorosamente familiarizado - eu descobri o PSA em 1970.
(...)
Os americanos gastam uma enorme quantia em testes de cancro da próstata. A conta anual da triagem pelo PSA ascende a pelo menos 3 biliões de dólares norte-americanos (...)
O cancro da próstata pode ter muita imprensa, mas considere os números: os homens americanos têm uma hipótese de 16% de serem diagnosticados com cancro da próstata durante a vida, mas apenas 3% destes morrem na sequência dum tal diagnóstico.
Isto acontece porque a maioria dos cancros da próstata cresce lentamente. Por outras palavras, homens com cancro da próstata que tenham a sorte de chegar a idade avançada são muito mais propensos a morrer por outras causas do que pelo seu cancro da próstata.
Afinal, o teste não é mais eficaz que uma moeda atirada ao ar.
Como tenho tentado deixar claro há muitos anos, os testes do PSA não podem detetar o cancro da próstata e, mais importante, não distinguem entre os dois tipos de cancro da próstata - aquele que mata e o que não mata.
Homens com baixos níveis [de PSA] podem ter cancros perigosos, enquanto outros com níveis altos podem ser completamente saudáveis.
Ao aprovar o método, o FDA baseou-se muito num estudo que mostrava que os testes podiam detetar 3,8 % dos cancros da próstata, uma taxa melhor do que o método habitual, o exame do toque retal.
Mas 3,8 % é um número pequeno. No entanto, especialmente nos primeiros tempos do uso deste método de diagnóstico, aos homens com níveis superiores a 4 ng/ml eram solicitadas dolorosas biópsias da próstata.
Se a biópsia mostrava qualquer sinal de cancro, o paciente era quase sempre empurrado para a cirurgia, a radiação intensiva e outros tratamentos prejudiciais.
A comunidade médica está a ficar gradualmente contra a triagem do PSA.
No ano passado, o Jornal de Medicina da Nova Inglaterra publicou resultados dos dois maiores estudos de métodos de triagem, um na Europa e outro nos Estados Unidos.
Os resultados do estudo americano mostram que durante um período de 7 a 10 anos o rastreio não reduziu a taxa de mortalidade nos homens de 55 ou mais anos.
O estudo europeu mostrou um pequeno declínio nas taxas de mortalidade mas também descobriu que, para salvar uma vida, 48 homens precisam de ser submetidos a tratamentos [muito complicados].
Ou seja, trata-se de 47 homens que, com toda a probabilidade, não mais vão poder desfrutar da sua sexualidade normal ou deixar de correr para o WC com enorme frequência.
Numerosos apoiantes da triagem precoce, incluindo Thomas Stamey, um conhecido urologista da Universidade de Stanford, pronunciaram-se contra este tipo de teste de rotina; no mês passado, a Associação Americana de Cancro pediu mais cautela no uso do teste. A Escola Americana de Medicina Preventiva também concluiu que não havia suficientes provas que recomendassem este modelo de rastreio.
Então, por que ele é ainda usado? 
Porquê as empresas farmacêuticas continuam a vender o teste e os respetivos grupos de pressão clamam pela "consciência do cancro da próstata", incentivando os homens a fazer o teste?
Lamentavelmente, a Associação Americana de Urologia ainda recomenda este método de diagnóstico, enquanto o Instituto Nacional do Cancro é vago sobre a questão, afirmando que as evidências não são claras.
O painel federal com poderes para avaliar os testes de rastreio do cancro, Grupo de Trabalho para a Prevenção, recomendou recentemente não usar o PSA em homens com 75 anos ou mais. Mas o grupo ainda não fez uma recomendação idêntica para homens mais jovens.
O teste de antigénio específico da próstata PSA tem um lugar - ele pode ser usado após o tratamento do cancro da próstata, por exemplo. O crescimento rápido dos valores indica um retorno da doença.
E os homens com casos de cancro na próstata na família provavelmente devem ser testados regularmente. Se os seus valores tiverem aumentos muito grandes, pode significar cancro.
Mas são usos limitados. Os testes não devem em absoluto ser aplicados para despistar o cancro em toda a população masculina com mais de 50 anos, sistema que é advogado pelos que lucram com o método.
Eu nunca sonhei que a minha descoberta, quatro décadas atrás, levaria a um desastre da saúde pública e simultaneamente a tantos lucros [das empresas de saúde].
A comunidade médica deve enfrentar a realidade e parar com o uso inadequado do despiste pelo PSA. Fazê-lo, economizaria biliões de dólares e livraria milhões de homens de tratamentos desnecessários e debilitantes.

- Richard J. Ablin é professor-investigador de imunobiologia e patologia da Escola de Medicina da Universidade do Arizona e presidente da Fundação Robert Benjamin Ablin para a Investigação do Cancro.

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Bastante informativa é, também, a tese de doutoramento de Raquel G. Ferreira de Sousa. Cito-a:

"A existência de diferenças geográficas e raciais na incidência e mortalidade do
CaP (carcinoma prostático)  (...) Quando os habitantes de uma determinada região na qual existe baixa incidência de CaP migram para uma de alta incidência (i.e., inicialmente do Japão e costas chinesas para o Havai, e posteriormente para a costa leste dos Estados Unidos da América), o risco aumenta significativamente em relação ao verificado no seu país de origem e aproxima-se do da população autóctone americana (Marques, Pina, Tomada & Reis, 2003; Wigle et al., 2008).
Quanto à idade, sabe-se que a incidência do CaP aumenta mais rapidamente com a idade do que qualquer outra forma de cancro. Sendo raro antes da quarta década de vida, 85% dos casos aparecem em homens com mais de 65 anos (...) A média de idade no momento do diagnóstico é de cerca de 67 anos (ACS, 2013)."
"Os três factores de risco comprovadamente associados ao cancro da próstata são a idade avançada, a história familiar e a origem étnica. Considera-se que existem outros factores de risco associados a este tumor como: factores dietéticos, factores hormonais, exposição a pesticidas, a cádmio minerado ou a radiações ionizantes (EAU, 2013; Wigle, 2008) (...)
Relativamente ao CaP [cancro da próstata] a alimentação será um dos factores de risco (...) Marques, Pina, Tomada e Reis (2003) referem existir uma certa relação entre os hábitos alimentares e as consideráveis diferenças na incidência do CaP entre o Ocidente e o Oriente (...) a ingestão de gordura e produtos de origem animal constituem um factor de risco a considerar (EAU, 2013; Moyad, 2001).
Nos países Mediterrânicos verifica-se uma menor incidência de CaP, o que em parte poderá ser devido a factores protectores existentes na dieta mediterrânica, tais como: consumo variado de origem vegetal, ingestão moderada de carnes vermelhas e elevado consumo de azeite. Alguns autores pensam que determinados componentes alimentares, como o licopeno (i.e., substância existente no tomate cozido), as vitaminas E, C e D e o zinco poderão ter efeito protector se fornecidos até determinadas quantidades diárias (...)
Relativamente aos factores hormonais, sabe-se que a testosterona promove o crescimento e desenvolvimento tumoral, mas para uma série portuguesa a testosterona sérica não está provada como factor de risco de diagnóstico de cancro da próstata (Botelho, Pina, Figueiredo, Cruz, Lunet, 2012).
Os fitoestrogénios poderão ter um papel protector (Dias, 2010; Wigle, 2008). Existe ainda evidência nos estudos epidemiológicos de associações entre o cancro prostático e a obesidade (...) assim como, actividade física reduzida. Por fim, os pesticidas, vernizes, parecem se correlacionar com o CaP (Wigle, 2008)."

- Raquel Gomes Ferreira de Sousa, "O impacto do carcinoma prostático (...) - importância do aconselhamento psicossocial", Universidade de Coimbra, Nov. 2013

Tese completa de Raquel Ferreira AQUI.

Um outro artigo interessante para a compreensão do cancro em geral, num blogue sobre Saúde, AQUI
Fonte: Blogue "Mais Opinião", artigo de Lúcia Reixa Silva 
Informações complementares sobre o cancro da próstata:
"Os Afro-Americanos têm duas vezes mais probabilidades em desenvolver CaP (....)[que] os indivíduos de raça branca, sendo que a mortalidade por CaP neste grupo também é duas vezes superior (...) (Luggen, 2010, etc.)"
"Sabe-se (...) que a carga genética é evidente, isto é, homens com dois ou mais parentes em primeiro grau atingidos pela doença, sobretudo se diagnosticados nos familiares em idade inferior aos 70 anos, o risco de vir a ter CaP pode aumentar até 5 a 11 vezes, quando comparados com a população geral (EAU, 2013; etc.)"
"Em fases precoces, os cancros da próstata são assintomáticos, sendo possível hoje em dia fazer o seu diagnóstico na maior parte dos casos através da realização do doseamento sérico do PSA ou através do EDR [exame digital retal] (Moyer, 2012; Quintela et al., 2010)."
NOTA (Rui Tojal) - "possível hoje em dia fazer o diagnóstico na maior parte dos casos... através do PSA" - Afirmação falsa, como se vê pelo artigo de Richard G. Ablin; contradição entre cientistas, ou ignorância científica de quem devia estar mais informado?
"Segundo os investigadores internacionais (Dias, 2010) quando um cancro da próstata cursa com sintomatologia urinária, própria do tumor, quase sempre ultrapassou a fase curativa. Contudo, em relação aos sintomas urinários baixos, eles são os mesmos causados por uma degenerescência nodular prostática benigna peri-uretral – a Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP).
O cancro da próstata poderá manifestar-se por sintomas urinários baixos (i.e., LUTS sintomas do aparelho urinário inferior/baixo – LUTS do Inglês, Lower Urinary Tract Symptoms) quer de esvaziamento (i.e., que habitualmente se designam do tipo “obstrutivo”), quer enchimento/esvaziamento (i.e., classicamente de “tipo irritativo”, quer ainda por sintomas pós-miccionais (Vide Esquema 1). Ocasionalmente poderá ainda surgir sangue na urina (i.e., hematúria), sangue no esperma (i.e., hematospermia) ou, em casos mais raros, problemas da função eréctil (i.e., Disfunção Eréctil -DE); (Dias, 210; Dias, Parada & Vendeira, 2007).
Quanto à sintomatologia de cancro prostático metastizado ela é o resultado da localização, crescimento e invasão das próprias metástases. Dentro da sintomatologia mais frequente de cancro avançado da próstata poderemos incluir: uropatia obstrutiva alta assimétrica, dores lombares, dores ósseas, emagrecimento, cansaço (i.e., este por vezes resultante de anemia), entre outros sintomas (Dias, Parada & Vendeira, 2007; Quintela et al., 2010; Zelefsky et al., 2008).

Esquema 1

Sintomas do Aparelho Urinário Inferior (LUTS) Adaptado de Dias (2010, p. 6).
•Diminuição da força e calibre do jacto;
•Atraso no início da micção,
•Micção prolongada,
•Necessidade de contracção abdominal para urinar (i.e., esforço miccional);
•Retenção Urinária;
•Incontinência por "regurgitação" (i.e., trata-se de um fluxo constante ou episódico de urina, normalmente causado por uma obstrução ou dano nervoso).
Sintomas de Esvaziamento
•Imperiosidade miccional (i.e., necessidade súbita em urinar);
•Aumento da frequência das micções (i.e., polaquiúria);
•Aumento do número de micções durante a noite (i.e., noctúria);
•Incontinência associada à imperiosidade;
•Dor suprapúbica/hipogástrica.
Sintomas de Enchimento
•Sensação de esvaziamento vesical incompleto;
•Gotejo terminal.
Sintomas Pós-miccionais

Antigénio Específico da Próstata (PSA)
  • O PSA [é] uma glicoproteína com função enzimática, uma protease, que é produzida fundamentalmente pelas células epiteliais da próstata, e cuja função consiste em liquefazer o êmbolo gelatinoso do esperma no ejaculado. O PSA existe no esperma, nas células da próstata (i.e., quer nas células malignas como benignas), e no sangue periférico. Com a introdução do teste sanguíneo do PSA, tornou-se possível aumentar exponencialmente o diagnóstico de cancro da próstata em homens portadores de estádios iniciais da doença, para os quais será possível oferecer tratamentos com elevado potencial curativo (ACSG, 2010; Dias, Parada & Vendeira, 2007; EUA, 2013; Quintela et al., 2010; Varregoso, 2006)."
NOTA (Rui Tojal) - "Com o PSA...aumenta exponencialmente (?) o diagnóstico"- Afirmação totalmente falsa, como se vê pelo artigo de Richard G. Ablin; tratando-se de teses e trabalhos científicos, esta contradição evidente faz-nos ver que endeusar a ciência é um erro crasso. A ciência é feita por homens como todos nós, falíveis. E quanto maior a arrogância pela "superioridade do saber", maior a probabilidade do erro. 
  • "Segundo Moyer (2012) e Quintela e seus colaboradores (2010) [sobre o] PSA (...)  não é forçoso que valores elevados do mesmo estejam sempre relacionados com o cancro da próstata (...) 
  • Para além do cancro, outras patologias prostáticas podem ser responsáveis pela elevação do PSA, como as prostatites bacterianas ou inflamatórias, HBP, as lesões pré-malignas da próstata (i.e., Lesões suspeitas de cancro, ou seja, proliferação atípica de pequenos ácinos (ASAP); e neoplasia prostática intra-epitelial (HGPIN), ou seja, a neoplasia intra-epitelial prostática (PIN) é uma lesão não-invasiva da próstata que apresenta anormalidades genéticas, quando a lesão é classificada em PIN de alto grau designa-se por neoplasia prostática intra-epitelial –HGPIN), ou actos de diagnóstico e tratamento como o EDR, a biópsia da próstata, e as manipulações uretrais ou rectais endoscópicas (i.e., uretroscopias; cistoscopias; Ressecção Transuretral da próstata (RTU da próstata); Ressecção Transuretral da Bexiga (RTU da bexiga); recto-sigmoidoscopias; colonoscopias), (Quintela et al., 2010).
Nos dias de hoje, o valor de PSA deve ser sempre interpretado em função de uma série de outros parâmetros, tais como: a idade do doente, o volume prostático, a presença de um nódulo no decorrer do EDR ou o resultado de eventuais biópsias realizadas previamente (Quintela et al., 2010)."

Relação PSA livre/ PSA total

"O PSA circula no sangue, uma parte ligado a proteínas de transporte e outra sob a forma livre. O componente que circula ligado à proteína alfa-quimiotripsina designa-se por PSA complexado (PSAc); o conjunto de isoformas que circulam livremente designam-se por PSA livre (PSA l). O somatório do PSAc com o PSA l corresponde ao PSA total (PSAt), sendo este o valor habitualmente determinado na análise de rotina. 
No que diz respeito aos valores de PSA, o valor tido como “normal” (i.e., não existe um valor específico para se dizer que um nível de PSA é normal ou anormal) é de 4,0 ng/ml. 
Porém, de forma a evitar as taxas de falsos negativos e falsos positivos, foram desenvolvidos outros parâmetros, tendo em conta a idade do indivíduo, a raça, a velocidade do PSA (i.e, variação com o tempo), a densidade do PSA (i.e., o PSA em função do volume prostático), entre outros parâmetros. Nos últimos anos para além da fracção livre, passou a ser possível determinar a fracção complexa, o PSAc. Desta forma, a razão entre o PSA livre e o PSAt veio auxiliar no processo de decisão para a realização de biópsia. Quanto mais baixa for essa relação, maior o risco de cancro, para valores de PSA entre 4,0ng/ml e os 10ng/ml (Dias, Parada & Vendeira, 2007)., 

Outros exames complementares

A ecografia prostática transrectal foi um exame muito usado na avaliação da próstata. Hoje, e de acordo com as principais linhas de orientação internacionais (i.e., NCCN e EAU) tem a sua utilidade quase que restringida à realização da biópsia prostática, previamente decidida por alterações detectadas no EDR e/ou por alterações suspeitas nos valores do PSAt. Este exame poderá fornecer ainda dados sobre a aparente integridade da cápsula prostática ou não, colaborando no estadiamento local do CaP (EAU, 2013). Cada vez mais se pensa que as evoluções recentes da Ressonância Magnética Nuclear (RMN), nomeadamente na forma de RMN multiplanar, permitem melhorar a acuidade na suspeita do diagnóstico e no estadiamento local. A avaliação da doença extra-prostática (i.e., matastização ganglionar ou de órgãos sólidos como por exemplo, o fígado) pode ser efectuada com a Tomografia Axial Computorizada (TAC), ou RMN. A cintigrafia óssea, apesar duma acuidade relativa, faz-se habitualmente quando há critérios bioquímicos (i.e., PSA, fosfatase alcalina e fosfatase alcalina óssea) de suspeita da metastização óssea, ou sintomatologia óssea focal. O diagnóstico definitivo do cancro da próstata será apenas obtido com a realização de biópsia prostática transrectal ecoguiada. Na actualidade quando se realiza uma biópsia, devem ser colhidos entre 12 a 14 fragmentos tecidulares para análise anatomopatológica nomograma de colheita de Viena, em que o número de fragmentos decididos depende da função do volume da glândula e da idade do candidato (EAU, 2013)."

- In Tese de Doutoramento de Raquel G. F. Sousa, citada acima

sábado, 20 de agosto de 2016

RECEITA DE SUMO ANTIDEPRESSIVO

Uma receita que aparece em muitas publicações naturistas, com ingredientes de uso corrente, citados também em livros de medicamentos naturais, como este LINK.

NOTA: É fundamental usar vegetais biológicos/orgânicos.
Vegetais do agrotóxico (os que se vendem nos mercados e supermercados normais) não garantem os mesmos efeitos benéficos ou, se os tiverem, são pelo menos em parte anulados pelos efeitos negativos dos pesticidas contidos.

Eu próprio e pessoas amigas tomámo-lo diariamente durante cerca de 3 anos, comprovando efeitos claros na disposição psicológica (calmante e anti-depressivo) e na regularização da digestão.

A preparação é simples, e se não conseguir todos os ingredientes não é grave, há versões da receita apenas com os três primeiros ingredientes, mas recomendo vivamente usar todos. 

(Um deles, raíz do açafrão - não é fácil obter, pelo menos em Portugal. Encontrei ocasionalmente numa loja da cadeia dietética Celeiro, Aven. da República, Lisboa)
Raíz de açafrão (Turmeric, em Inglês)
RECEITA:
(dose para 1 pessoa em cada toma)

Lave bem, descasque e parta em bocados: 1 beterraba, 1 cenoura, 1 maçã, 1 limão, 1 cabeça de gengibre e 1 cabeça de raíz de açafrão (todos de tamanho pequeno).

Faz-se um sumo/suco no liquidificador, adiciona-se um pouco de água - sugiro água mineral com Ph entre 7 e 10 em vez de água da torneira que, hoje em dia, toda ela tem cloro que é nocivo à saúde e que não desaparece mesmo filtrado.
Pode juntar uma colher de mel puro de preferência biológico / orgânico 
(as abelhas são já por si um filtro natural. Inclusive vêm desaparecendo em massa em consequência da agricultura industrial tóxica. O mel é um produto excelente para ajudar a combater várias doenças indicadas abaixo)

Para triturar os vegetais, caso não possua um liquidificador, use a "varinha mágica". Nesse caso, parta previamente os vegetais em pedaços ainda mais pequenos.  

O sumo/suco deve ser bebido logo após cada preparação todos os dias, em jejum, 1 hora antes de comer qualquer outra coisa.

Se quiser reforçar, beba também a meio da tarde, durante o tempo necessário, até a pessoa se curar. 

Pode repetir o tratamento ao longo do ano sempre que quiser.

É considerado na literatura naturista da Internet indicado para:
- Doenças cancerígenas
- Anti-inflamatório;
- Problemas no fígado, rins e pâncreas.
- Úlceras
- Proteção dos pulmões, coração e tensão arterial
- Reforço do sistema imunitário
- Os olhos, eliminando a vermelhidão, a fadiga e a secura
- Dores musculares ou provocadas pelo exercício físico
- Desintoxicar, eliminando a obstipação intestinal, tornando a pele mais saudável e combatendo o acne
- Combater o mau hálito, a má digestão e as infecções na garganta
- Combater a dor e a febre. Assim como não tendo efeitos secundários, de boa assimilação e fortalecendo o sistema imunitário.

Nota: Apesar de o ter tomado cerca de dois anos seguidos, os únicos efeitos que garanto (porque fiz a experiência) são os da boa disposição e regularização intestinal.
Já não serve, porém,  para redução de peso ou diminuição do apetite. É neutro, nesse aspeto.
No entanto, como na altura em que o tomava eu não dava a devida importância à questão dos pesticidas nos vegetais (hoje já os considero um factor fundamental) e não tinha garantia da origem de todos os vegetais comprados, tal condiciona a avaliação da minha experiência para efeito doutras doenças ou items.
Para mais informação sobre as consequências do agrotóxico:
http://ruitojal.blogspot.com.br/2013/08/ogms-e-monsanto-estudo-frances-mostra-o.html
http://ruitojal.blogspot.com.br/2013/08/a-verdade-da-industria-da-alimentacao.html

segunda-feira, 27 de junho de 2016

ORIGEM DAS FESTAS DOS SANTOS POPULARES

Ir para: 1 - SAÚDE E PREVENÇÃO



As festas juninas têm uma origem pagã - a celebração do solstício de Verão - que vem dos primórdios da humanidade.

Nos países do hemisfério norte isso tem toda a lógica - no dia 23 de junho o Sol começa a atingir o seu ponto mais alto do ano, algo especial para povos que gozam de poucos dias de sol.

Era visto pelos povos primitivos também como a celebração da fertilidade da terra ou ocasião para o início dum namoro.

A igreja católica, constatando a força dessas festas junto do povo, procurou com sucesso  - nomeadamente em Portugal - ligá-las aos seus mais importantes santos, o que caiu bem em populações predominantemente católicas.

Em Portugal e Brasil (neste, sobretudo no Nordeste e em Minas) as festas assumem características muito peculiares e têm enorme impacto popular. O que é paradoxal, dado o Brasil ser do hemisfério sul, e Portugal ser do sul da Europa onde o solstício não tem tão grande importância. * (1)

Possivelmente a dimensão que se dá às festas juninas nos dois países tem a ver com essa aculturação religiosa que terá aumentado o seu impacto.

MAS QUEM SÃO ESTES SANTOS?

Santo António - de seu verdadeiro nome Fernando de Bulhões - nasce a 13 de Junho de 1196 em Lisboa e morre em 1231 na cidade de Pádua, Itália.

São João, o mais popular dos três, segundo as versões comuns é S. João Batista, o apóstolo que, de acordo  com a Bíblia, batizou Jesus. Toma-se o 24 de Junho como data do seu nascimento.

Mas os habitantes do Porto - onde a grande festa é o dia de S. João - acreditam que celebram um frade eremita de nome João que nasceu no Porto e morreu em Tuy, na fronteira Galiza-Portugal, séc. IX. Três séculos mais tarde D. Mafalda trasladou alguns dos seus restos mortais para o Porto pelos muitos fiéis que acreditavam ter este santo poderes curativos.

S. Pedro, o terceiro da tríada dos santos populares de Junho, é o próprio apóstolo Pedro, a quem Jesus deu nome ao fazê-lo a pedra angular da construção da sua igreja, e celebra-se a 29 de Junho.

AS FESTAS JUNINAS EM PORTUGAL

Em Portugal, de norte a sul e arquipélagos insulares, não há praticamente uma localidade onde não sejam celebradas. Mas apenas um dos santos é escolhido para a festa em cada lugar, os outros são respeitados mas não assumidos como padroeiros do município.


Uma música típica dos santos populares em Portugal AQUI.


A grande  festa de Lisboa é naturalmente o Santo António - a 13 de Junho fecha tudo e é feriado municipal.

Já no Porto e em Braga, 2ª e 3ª cidades portuguesas, o feriado e a festa são do S. João, a 24.

Em Sintra, segundo município mais populoso (arredores de Lisboa) o feriado é a 29 e celebra-se o S. Pedro.

Nas vilas e maiores aldeias (núcleos com menos de 10.000 habitantes) há quase sempre uma banda, que é também escola de música, e concursos de "marchas populares" fantasiadas e seguindo diferentes temáticas, representando colectivos culturais em que as crianças e jovens - e pessoas de todas as idades - participam com particular entusiasmo.

EM LISBOA


A música mais típica das festas dos santos populares é a marchinha. Outra característica da festa junina em Portugal é a população vir toda para as ruas festejar, E, sobretudo em Lisboa, os vizinhos dos bairros típicos e populares têm liberdade para montar bancas de comes e bebes (o que durante o ano só é possível com uma licença especial, camarária), num ambiente de grande alegria, em que as pessoas se misturam nas ruelas estreitas e antigas do centro, nos bairros da Mouraria, Alfama, Bica, Graça, Xabrégas, etc.

O Santo António em Lisboa: na rua, no concurso de marchas e nos casamentos em conjunto.


As ruas são decoradas com bandeirinhas alpendradas, balões de papel, arranjos florais, e vendem-se milhares de vasinhos de manjerico, uma planta cheirosa onde se coloca um verso brejeiro em papel que os rapazes ofereciam às moças, mas hoje todos oferecem a todos, indistintamente - amigos, parentes, etc.

As principais comidas são: a sopa de caldo-verde (couve portuguesa às tirinhas cozida apenas com batata passada, sal, azeite e umas rodelas de chouriço para gosto); as sardinhas - prato obrigatório, muito bom devido à época de captura, ao mar frio e ao método de assadura na brasa - acompanhadas de salada; as bifanas (bifinho de porco, no pão ou no prato); o chouriço (espécie de linguiça de carne de porco curada em fumo ao longo de meses) assado mesmo na rua em chama de álcool e em vasinhos de barro; batatinhas pequenas cozidas com casca e, como sobremesas, arroz doce, leite-creme brulé, salada de fruta... (e muitos etc. - a culinária portuguesa é das mais diversificadas do mundo). Tudo acompanhado de vinho, sangria ou cerveja, e música popular portuguesa.

Em todo o  Stº António de Lisboa é tradição, ainda, algumas dezenas de casais de condição modesta casarem-se em conjunto, com todos os eventos  patrocinados pela Câmara Municipal da capital.

NO PORTO

Já no Porto a celebração de arromba é o S, João , e a cidade vem toda para a rua.

Martelinhos nas ruas do Porto e uma cascata típica.
Os balões em papel colorido, acesos e lançados no ar - muito populares no Brasil - são uma tradição desta cidade, assim como as cascatas, uma espécie de presépio junino, de que inclusive se faz um grande concurso. Outra tradição é bater amigavelmente com um alho porro (modernamente, passaram a ser martelinhos de plástico) em todas as pessoas que passam. O grande final é sempre na Ribeira, zona junto ao rio Douro, onde a multidão se aglomera nas duas margens para assistir ao fogo de artifício lançado da ponte D. Luís (toda em ferro e projectada pelo engenheiro G. Eiffel), sendo a arte da pirotecnia uma forte tradição, havendo ainda bastantes fábricas pirotécnicas na região norte.

AS FESTAS JUNINAS NO BRASIL

Embora a festa mais popular do Brasil seja provavelmente o Carnaval, o S. João em certas regiões excede-o em impacto popular.

"O maior S. João do mundo", em Campina Grande - Paraíba - NE


A grande força do S. João está no Nordeste, onde ganhou particularidades próprias, com o ritmo contagiante do forró *(2), não apenas tocado e cantado, mas também dançado em concursos de frenéticas quadrilhas juninas que seguem sempre o roteiro tradicional: a história dum casamento, onde entra padre, sacristão, casal de noivos, pais dos noivos, rei e raínha do milho, juíz e escrivão, padrinhos, delegado, casal de cangaceiros, convidados (muitas vezes representando "matutos") e um marcador que dirige os passos.

O típico forró, pelo grande Luiz Gonzaga AQUI.

Quase todo o povo festeja, seja com uma fogueira em frente à casa, seja indo para as ruas assistir aos concursos de quadrilhas, dançar, beber e comer, seja vestindo as crianças com trajes muito coloridos.

No nordeste come-se sobretudo milho assado ou cozido, cuzcuz, canjica e pamonha (todos feitos do milho), pé-de-moleque e maçã do amor, em Minas entra ainda o arroz doce, o pinhão e as castanhas de cajú.

O comércio também colabora, além de decorar as lojas, os empregados pôem sempre algum adereço de S. João, como o tradicional chapéu em palha e o lenço.

Uma curiosidade brasileira é que o dia dos namorados - ao contrário do resto do mundo, que é a 14 de fevereiro - no Brasil todo foi associado ao Santo António e comemora-se a 12 de junho!

As festas, na verdade, são celebradas em todo o Brasil, desde S. Catarina (sul) a Roraima (extremo Norte), passando pelo Rio e S. Paulo, onde os núcleos de emigração portuguesa foram sempre bastante numerosos, Minas Gerais, ou mesmo em locais improváveis como o Pantanal de Mato Grosso, com características próprias e muito fortes também.

Verifique:

PANTANAL

S. CATARINA

  MINAS GERAIS








RORAIMA



* 1 - AS FESTAS JUNINAS VIERAM MESMO DE PORTUGAL?

Como, por diversos motivos que não vou analisar, há uma tendência em certos setores para diluir  a influência portuguesa na cultura e na História brasileiras, invocando outros países ou simplesmente omitindo as origens, a pergunta tem cabimento. Há mesmo um blogue numa prefeitura brasileira que encontra influências chinesas nestas festas juninas!

Mas logo à vista desarmada se observam as semelhanças das festas nos dois países - nas datas, na tríade de santos, na música (apesar das diferenças devido à evolução posterior divergente), nos enfeites, nos concursos de marchas ou quadrilhas, nos casamentos colectivos, mas sobretudo no ímpeto e força popular destas festas que se sobrepõe claramente ao eventual carácter religioso.

De todo o modo, fiz buscas no Google sobre o carácter destas festas em culturas de países mais próximos, como Itália, Espanha e França. Em nenhum dos países existe um movimento semelhante, quando muito há celebrações com fogueiras, ou então religiosas, mas de forma muito localizada, em determinado município (em Itália, sobretudo Florença, e na Espanha, sobretudo Valência). Portanto em nenhum são uma festa maciça do povo e de âmbito nacional, como acontece nas festas de Portugal e do Brasil.

Verifique por si mesmo pesquisando no Google de preferência em italiano "festivitá principale, Italia" e em espanhol "fiestas más importantes, España".

Em França também poderá verificar que em junho apenas se celebra a nível nacional, e em dias que não têm nada a ver,  a festa dos pais e a festa da música, esta última de origem recente.


* 2 - SOBRE O FORRÓ

O Forró, nome genérico por que são conhecidos vários estilos musicais do Nordeste brasileiro como o baião, o xote, o xaxado e o coco,  merece particular menção por se tratar dum estilo musicalmente evoluído e com executantes de grande qualidade, de que se destaca Luíz Gonzaga, uma verdadeira força da natureza e considerado o grande renovador e divulgador do estilo.

Tal como o nome Forró vem provavelmente do Português (não do Inglês, nem do Francês  ou do Banto africano, como alguns afirmam - a palavra "forrobodó" de que deriva, é de uso corrente no norte de Portugal, e significa "festançabarulho".

Também é quase impossível que viesse duma das línguas da família Tupi-Guarani, já que nem têm palavras começadas pela letra F, e nada parecido com Bodó também.

Também é natural que as primitivas influências deste género musical sejam portuguesas (não vem nas enciclopédias, mas em Portugal há estilos folclóricos semelhantes, como o Vira (Minho, norte), o Fandango (Ribatejo, centro) e o Corridinho (Algarve, sul), músicas de ritmo também muito acelerado e sincopado, sendo que o triângulo, o acordeão e a viola usados pelas bandas de forró,  são instrumentos também muito usuais no folclore português.

Como é óbvio, dada o forte sentido musical dos outros dois elementos etno-demográficos que, junto com o português,  constituem a base fundadora da sociedade brasileira - o índío (dominante) e o africano - o forró moderno dos anos 40 foi provavelmente beber na rádio, no disco e noutros meios influências alheias como a polka, a música francesa, etc. que o enriqueceram.

Já em relação à dança das quadrilhas, igualmente designada forró no nordeste brasileiro, é habitual considerar-se de influência francesa pelo facto de utilizarem alguns comandos num Francês adulterado, como "anarriê", "anavantu", "balancê", "returnê", bem como pelos passos, que de facto diferem bastante das danças portuguesas.

Ora, como nunca houve colonização francesa do Brasil - no nordeste apenas se regista uma fugaz presença, meramente para trocas, de corsários e mercadores franceses no período antes da colonização propriamente dita, ou seja, antes de os portugueses se estabelecerem em todo o território - seria um tanto mirabolante que existisse essa influência por via direta.

Parece mais lógico que palavras e passos de dança tenham sido trazidos pela corte portuguesa quando se estabeleceu no Rio de Janeiro no início do século XIX e fossem sendo levados por frequentadores das festas da Corte - que eram bastante abertas, ao que consta - para outras regiões do Brasil. O que não obsta que também sejam influenciadas pelo folclore português (basta olhar algumas danças portuguesas já citadas).

Observe-se que as danças de salão da nobreza em Portugal como em toda a Europa tinham, essas sim, muita influência francesa e num certo período (século XVIII) era também considerado  chique os nobres usarem palavras francesas na suas conversas e, por maioria de razão, nos bailes.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Maria Almira - Um grande Sol cada manhã iluminada de Sintra


Maria Almira Medina, 29 de agosto de 1920 - 19 de janeiro de 2016

Mais do que a boa amiga que me acompanhou nas lutas, sobretudo dessa fase importante para os que amam a liberdade - o 25 de Abril de 1974 - é a perda duma mulher e cidadã de rara sensibilidade e raro sentido estético, multifacetado nas diversas expressões do sentido artístico, desde a pintura e escultura à poesia, mas sobretudo uma pessoa de absoluta generosidade e transparência, sempre pronta a doar-se sem calcular o retorno.




Agora como na lua
à força de não ter prato
lua - terrina do mundo
cheia de caldo barato

Servem a sopa dos pobres
anjos de barba e bigode
de ventre proeminente
cada um come o que pode

Mas a lua não tem fundo
tem entranhas generosas
transforma a fome em fartura
dá-nos pão em vez de rosas

Os pobres que vão da terra
levam a barriga oca
a solidão dos demais
e a comida foi pouca

Agora comem de tudo
são heróis recém-chegados
lua - terrina do mundo
sopa dos esfomeados.

Maria Almira Medina, 1963 - Um Tempo de Cata-Sol



Epitáfio - 1

Há-de chegar o tempo de soltar
as asas dos silêncios desmedidos
nos espaços redondos imprecisos
dos irrespiráveis cansaços de jograr
Em utópicas memórias desse rosto
da névoa universal que o enleou
o jogral já jogrou
nómadas
as palavras que a serra lhe ensinou
dessedentam as vivências que cismou.


Epitáfio - 2

Anjos e querubins percorrem S. Marçal
soltando flores silvestres, cânticos e ais.
O jogral já jogrou:
requer a gaveta que lhe resta
entre a lua do Lourel - queijo saloio
e os gavetões dos pais.

Maria Almira Medina, 28 de Março de 1998 - Um Tempo de Cata-Sol

(Em breve, mais coisas da grande MARIA ALMIRA. Até sempre, amiga !)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

IRACEMA DOS SANTOS - 3 Agosto 1925 / 30 Dezembro 2015

Que descanses agora em paz, MÃE, sem medo nem ilusões.
Até já, até um dia novo, até sempre.

Consoada 2015, após a alta  hospitalar - em  minha casa




27 Maio 2015, após tirá-la do "lar" de idosos - em minha casa



terça-feira, 13 de outubro de 2015

LOJAS CENTENÁRIAS DA BAIXA LISBOETA

Há uns bons tempos que nada publicava neste blogue.

Achei um bom motivo para quebrar o silêncio, neste belo conjunto de fotos de lojas centenárias da baixa de Lisboa.

Baixa de Lisboa, que é ela mesma um monumento no seu todo: um dos maiores, senão o maior conjunto arquitetónico neoclássico do mundo, uma espécie de pequena cidade toda construída em neoclássico do séc. XVIII já que, a seguir ao terramoto de 1755 que destruiu a cidade, o 1º ministro Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, decidiu usar um estilo de reconstrução da cidade que fosse prático, elegante e económico. Daí as ruas e edifícios completamente retilíneos e geométricos.

Clique a seguir. Ao abrir, escolha   Apresentação / Desde início ou Present / From beginning



Baixa Pombalina de Lisboa

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E SAÚDE HUMANA




Desde há alguns anos que novas formas de poluição vêm surgindo. Sobre elas, a maioria das pessoas está desinformada e portanto indefesa.

Manifestação em Estugarda, Alemanha, contra a poluição eletromagnética.
Até porque as empresas que estão na sua origem dispõem dum grande poder, fazendo uma sistemática desinformação que perturba a divulgação de dados  objectivos e rigorosos na matéria.

Em relação às novas tecnologias sem fios, como os telemóveis, as redes 3G / 4G, Wifi e várias outras, as operadoras e os fabricantes tratam de antecipar "pesquisas" que concluem sempre pela "não comprovação dos efeitos negativos na saúde" e pela recomendação de que "as investigações devem  prosseguir".

Mas estudos científicos independentes e associações de cidadãos, sobretudo na Europa, já comprovaram os sérios efeitos sobre a saúde humana.

Na Suécia, primeiro país onde há várias décadas atrás surgiram os alertas, já foram implementadas algumas zonas livres do "electro smog", tal como em muitos países há zonas livres de fumo ou de energia nuclear.

O autor do blogue Electrosensibilidade, o biólogo português Paulo Vale, por ser ele mesmo um eletrosensível, ou seja, ter uma vulnerabilidade acima da média a esse tipo de poluição, vem-se dedicando à sua pesquisa e combate.

Cito-o:

«(...) a medicina convencional, ainda vê essencialmente o corpo humano como uma máquina formada por peças (orgãos) que por sua vez são feitas de peças mais pequenas (células, e no nível seguinte as moléculas). 

É a mecânica newtoniana. A mecânica quântica einsteiniana ainda não foi assimilada em muitos campos da ciência.
Felizmente a medicina alternativa/complementar vê a vida como um fenómeno vibracional, feito de ondas. Um dos livros clássicos de introdução a esta área é Medicina Vibracional, pelo Dr. Richard Gerber. 
O equilíbrio do desenvolvimento e manutenção do nosso corpo depende do bom funcionamento do nosso delicado electromagnetismo interno e da sua interacção com os campos externos como o campo geomagnético da Terra».

Paulo Vale diz que estamos cada vez mais rodeados, da casa ao shopping, do transporte ao local de trabalho e à escola, por aparelhos e redes que emitem as mais diversas formas de poluição elétrica e não só.


As lâmpadas fluorescentes de longa duração, ditas  ecológicas: na realidade gasta-se mais energia a produzi-las e são dificilmente recicláveis. Caso se estilhacem, fique longe do pó e do mercúrio que elas largam, e use luvas ao recolher os pedaços.

Um dos aspetos mais preocupantes são as torres retransmissoras do sinal dos telemóveis / celulares, sobretudo porque as cidades estão plantadas delas por todo o lado, e mesmo que você escolha morar longe delas, qualquer operadora pode decidir a todo o momento escolher o prédio defronte para implantar uma.

Há estudos que provam que a distância mínima recomendável para estas antenas não serem prejudiciais é em torno de 600 metros, mas isso é relativo, já que a operadora pode decidir intensificar o sinal se surgirem novas necessidades comerciais e técnicas, e qualquer antena suplementar intensifica o sinal.

Paulo Vale recomenda vários meios de defesa, que ele mesmo experimentou:

- Cortinas chapeadas a metal, como folha de aço ou aluminio, tapando as janelas mais expostas a antenas
- Pintar as paredes da casa a tinta protetora como grafite
- Usar redes tipo mosquiteiro eletromagnético
- Distribuir pela casa  dispositivos atenuadores das microondas como os Star tri pak.

Tais dispositivos podem ser adquiridos pela internet, conferir aqui: http://www.emfblues.com/; http://www.bioelectricshield.com/; http://www.golden-ray.com/

Outro alerta que deve ser feito é para os fornos microondas - têm um efeito milhões de vezes superior às microondas dum telemóvel/celular pelo que todo o cuidado é pouco. 

Não recomendo o uso. Eles sobreaquecem apenas o líquido dos alimentos, e há provas da "memória da água", obtidas  pelo japonês Masaro Emoto, mostrando que a água guarda as mínimas alterações a que é submetida, até a energia da voz humana pode afetá-la. Mas se insiste em usar forno microondas, mantenha-se longe dele quando em uso.

Outra recomendação de Paulo Vale, principalmente para quem é eletrosensível, manter-se longe de qualquer aparelho que emita ondas eletromagnéticas, emissor de Wifi, pen 3 ou 4G,  telemóvel e smartphone, fogão elétrico, radiodespertador, alarmes, etc. Mesmo o computador portátil, é  habitual colocá-lo ao colo o que é nocivo para os órgãos reprodutores pelo aquecimento e ondas recebidos. Internet e telefone com fio são largamente preferíveis aos sem fio, do ponto de vista da saúde.  

Para leitura integral do blogue de Paulo Vale, que recomendo a par de outras leituras
http://electrosensibilidade.blogspot.com.br/p/2.html


terça-feira, 7 de outubro de 2014

PROGRAMAS SECRETOS PARA NOVOS TIPOS DE ARMAS

Vários países têm programas secretos para novos tipos de armas




Confira aqui o artigo principal de suporte (em Inglês).

E confira aqui o programa HAARP, do exército americano (em Português Br).

Há bastantes indícios de programas em execução por parte de várias potências com vista a novos tipos de armas, algumas delas conhecidas como Chemtrails, para provocar alterações climáticas, terramotos, tempestades, explosões, e até condicionamento mental e doenças físicas ou psicológicas.

É oficial que os EUA  há décadas que estão montando o designado escudo anti-mísseis a pretexto da ameaça russa.

Curiosamente, os ativistas que mais denunciam essas armas são cidadãos norte-americanos que colhem dados , fazem fotos e publicam na Internet artigos como este  aqui.

Mesmo que haja uma certa fantasia em algumas dessas denúncias, seria imprevidência não ficar atento a esta nova realidade.

De entre as armas citadas, temos:

- Aspersão de partículas de bário e zinco que ionizadas pelo sol produzem um plasma de zinco que, uma vez bombardeado por raios laser ou ondas eletromagnéticas, podem causar tempestades ou alterações no  clima

- Feixes de micro-ondas que causam graves danos à saúde

- Alteração do campo magnético e ondas eletromagnéticas que provocam perturbações mentais e doenças.

Estas armas tanto podem estar baseadas em instalações no solo, como em  satélites ou em aviões.

Os seus efeitos tanto podem vir pela atmosfera, como através de drones teleguiados ou mesmo através dos nossos aparelhos portáteis, telemóveis/celulares ou pelas redes de comunicações, com ou sem fios. (1)


Previna-se: se sentir dores internas, tonturas, zumbido, ruídos como os dum rádio, ou um mal-estar que não seja explicável por alguma doença natural de que sofra, tente defender-se o mais possível. Você pode estar a ser cobaia indiferenciada duma experiência, ou então ser um  alvo específico, caso seja um ativista que incomoda os grandes  interesses.

- Baseado num artigo de  Carolyn Williams Palit
 Rense.com

(1) Para perceber que tudo isto não é fantasia, preste atenção às suas sensações, e verifique como uma simples rede Wifi (internet sem fios) ou uma pen G3, e ainda mais uma G4, causam dor-de-cabeça e cansaço, sobretudo  se ficar próximo e muito tempo exposto a essas fontes de micro-ondas.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Lou Reed - obrigatório ouvir


  1. Em baixo, a letra, conforme o CD original "New York", 1989. Depois, a minha tradução, como sempre feita com liberdade poética. No caso, fácil até, dado Lou ser muito prosaico, investindo sobretudo na ácida sironia social e dos costumes. 

We who have so much to you who have so little to you who don't have anyhing at all * We who have so much more than any one man does need and you who don't have anything at all * Does anybody need another million dollar movie * Does anybody need another million dollar star * Does anybody need to be told over and over * Spitting in the wind comes back at you twice as hard * Strawman going straight to the devil * Strawman going straight to hell * Does anyone really need a million dollar rocket * Does anyone need a 60.000 dollar car * Does anyone need another President or the sins of Swaggart parts 6. 7. and 9. [link] * Does anyone need another politician caught with his pants down and money sticking in his hole * Does anybody need another racist preacher spittin ' in the wind can only do you harm * Strawman going straight to the devil * Strawman going straight to hell * Does anyone need another faulty shuttle blasting off to the Moon, Venus or Mars * Does anyone need another self-righteous rock and roll singer whose nose he says has led him straight to God * Does anyone need yet another blank skyscraper * If you 're like me I'm sure a minor miracle will do * A flaming sword or maybe a gold ark floating up the Hudson * When you spit in the wind it comes right back in two


HOMEM-FRAUDE

Nós que temos tanto, para ti que tens tão pouco, para ti que não tens absolutamente nada * Nós que temos muito mais do que qualquer homem precisa, e vocês que não têm absolutamente nada * Alguém precisa doutro filme de um milhão de dólares * Alguém precisa doutra pop-star de milhões de dólares * Alguém precisa que lhe digam repetidamente Cospes contra o vento e é-te devolvido mais forte e a dobrar * Homem-fraude vais direto pró diabo * Homem-fraude vais direito ao inferno * Será que alguém precisa realmente dum foguetão de milhões de dólares * Alguém precisa dum carro de 60.000 dólares * Alguém precisa doutro presidente ou dos pecados de Swaggart partes 6. 7. e 9. [link explicativo] * Alguém precisa doutro político apanhado com as calças em baixo e dinheiro escondido no buraco * Será que alguém precisa doutro pregador racista a cuspir ao vento, isso só pode fazer-te mal * Homem-fraude vais direto pró diabo * Homem-fraude vais direito ao inferno * Alguém precisa doutro foguetão defeituoso enviado à Lua, Vênus ou Marte * Alguém precisa doutro cantor evangélico de rock & roll que diz que o seu nariz o liga diretamente a Deus * Alguém precisa de mais um arranha-céus tipo caixote * Se tu és como eu, tenho a certeza que podemos fazer um pequeno milagre * Uma espada em chamas ou talvez uma arca de ouro flutuando no rio Hudson * Quando cospes contra o  vento ele devolve-to a dobrar.


domingo, 6 de julho de 2014

Revisitando o eterno BREL

Um intérprete de Leonard Cohen classificava Jacques Brel como um homem único e manifestava a certeza de que ele inspirou (também) o grande autor canadiano.

Brel é daqueles casos raros que surgem uma vez em várias décadas. Apesar da vastidão do universo musical  em que se insere, Brel sequer será comparável aos  outros criadores francófonos da sua época - salvo talvez uma Edit Piaf, da geração colada à sua.

Le Plat Pays - uma das suas grandes canções -  é uma oração à terra onde nasceu e que nunca lhe devolveu (em vida) uma fração do que Brel lhe deu sem precisar de o declarar.

Nascido numa família católica da metade neerlandesa da Bélgica, Jacques identificava-se com a francofonia, divergindo nisso também da sua família que o queria envolvido nos negócios do clã.

Casado e pai de três filhas, foi sobretudo fiel ao seu obcessivo amor pela vida e pela emoção sincera posta em tudo o que fazia.

Escolhendo Paris para início duma carreira multifacetada, sobrevive no início  dando aulas de violão até que ao fim de anos é convidado para um espetáculo secundário no mítico Olimpia.

Ganha rapidamente o reconhecimento internacional, é interpretado por grandes figuras do music hall como David Bowie, que gravam Amsterdam, Quand On N' a Que l' Amour e outras suas músicas. Vende milhões de discos.

Fez muito teatro musical e cinema, mas o seu brilho está na voz, e nessa combinação perfeita de música, poesia e performance em palco, onde se lhe sente em cada palavra a entrega total à emoção à flor da pele.

Já doente de cancro no pulmão, pilota o seu pequeno avião numa longa viagem até às ilhas Marquesas, onde se refugia por repulsa ao comércio que tomara a vida artística europeia, encontrando ainda forças para ajudar a população indígena das Marquesas no transporte aéreo.

Volta apenas à Europa para tratamentos. Morre em 1978 num hospital de Bobigny, França. Está sepultado nas Marquesas, perto de Paul Gauguin. 

Mais informações biográficas AQUI


SUGESTÃO: Ponha o vídeo a seguir em écrã máximo para observar bem a expressão do artista. 
Após ouvir o Plat Pays, não deixe de ouvir Ne Me Quitte Pas / Não me abandones, de que Brel é também autor - uma das canções mais dilacerantes jamais escrita, reinterpretada  por dezenas de artistas em todo o mundo e que até hoje continua a sensibilizar milhões de pessoas. Uma canção que, surpreendentemente, Brel disse não ser sobre o amor, mas "sobre a cobardia humana".


LE PLAT PAYS - O PAÍS RASO
Letra

Português / Francês

Com o Mar do Norte por último terreno vago 
Avec la mer du Nord pour dernier terrain vague
E as vagas de dunas para conter as vagas 
Et des vagues de dunes pour arrêter les vagues
E esquivos rochedos que as marés recobrem 
Et de vagues rochers que les marées dépassent
Não deixando jamais o coração a descoberto  
Et qui ont à jamais le cœur à marée basse
Com essa infinidade de brumas a vir 
Avec infiniment de brumes à venir 
Com o vento oeste, escutai-o a possuir 
Avec le vent d´ouest écoutez-le tenir
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.
 

Com suas catedrais por únicas montanhas
Avec des cathédrales pour uniques montagnes 
E os negros campanários / Et de noirs clochers
Como mastros tamanhos  / Comme mâts de cocagne 
Onde diabos de pedra desfiam as nuvens 
Où des diables en pierre décrochent les nuages 
Com o fio dos dias por única viagem
Avec le fil des jours pour unique voyage 
E caminhos de chuva por único Boa Noite
Et des chemins de pluie pour unique bonsoir
Com o vento oeste escutai-o a querer / Avec le vent d´ouest écoutez-le vouloir 
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.
 

Com um céu tão baixo que um canal se perdeu
Avec un ciel si bas qu´un canal s´est perdu
Com um céu tão baixo que é preciso humildade 
Avec un ciel si bas qu´il fait l´humilité  
Com um céu tão escuro que um canal se enforcou 
Avec un ciel si gris qu'un canal s' est pendu
Com um céu tão escuro que é preciso piedade
Avec un ciel si gris qu´il faut lui pardonner
Com o vento norte que vem para rasgar 
Avec le vent du nord qui vient s´écarteler 
Com o vento norte escutai-o a fraturar 
Avec le vent du nord écoutez-le craquer
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien
 

Com essa Itália que descerá o Escalda 
Avec de l´Italie qui descendrait l´Escaut
Com Frida-a-loira quando ela se torna Margot 
Avec Frida la Blonde quand elle devient Margot 
Quando os filhos de novembro / Quand les fils de novembre
Nos revisitam em maio  / Nous reviennent en mai
Quando a planície fumegante / Quand la plaine est fumante
Treme sob julho / Et tremble sous juillet
 

Quando o vento abre ao riso / Quand le vent est au rire, 
Quando o vento abre ao trigo / Quand le vent est au blé
Quando o vento abre ao sul / Quand le vent est au sud
Escutai-o cantarÉcoutez-le chanter
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.